Facção Venezuelana adentra o Brasil e faz aliança com o PCC; entenda o caso
O território da região Norte do Brasil tem sofrido com a expansão da facção venezuelana Tren de Aragua. Vista como organização terrorista até pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, eles tem como estratégia expandir sua área de domínio, incluindo recrutar brasileiros e tentar dominar as rotas do tráfico de drogas, pontos de prostituição, garimpos e até uma aliança com o Primeiro Comando da Capital (PCC).
A alta periculosidade de Tren Aragua é tão grande que Trump inclusive promete pagar 5 milhões de dólares caso seus líderes sejam presos. Segundo relatórios da Polícia Civil e do Ministério Público obtidos pelo jornal O Globo, são apontados os métodos violentos utilizados para eliminar rivais e tomar territórios.
Em janeiro foi identificado por investigadores um cemitério clandestino em Boa Vista, capital de Roraima, onde haviam dez corpos enterrados, sendo a maioria com perfurações feitas por faca.
Os policiais suspeitam que os mortos eram desafetos da facção venezuelana que assumiu o controle das bocas de fumo de pelo menos cinco bairros da cidade. Além de Roraima, a facção tem adentrado Manaus, capital do Amazonas, como também em cidades que ficam na fronteira do estado.
“Como são mais violentos, expulsam os traficantes locais. Houve alguns embates com as facções brasileiras. Mas depois de um arranjo com o PCC, os venezuelanos passaram a cooptar brasileiros”, contou o delegado Wesley Costa, que é titular da Delegacia de Repressão a Ações Criminosas Organizadas (Draco).
A facção foi criada a partir de um sindicato de trabalhadores ferroviários e se expandiu a partir de detentos do presídio de Tocorón, sendo a primeira ser classificada como “organização terrorista estrangeira”, em decreto assinado por Trump logo após sua posse em 20 de janeiro.
Além do Brasil e da Venezuela, a facção está presente nos Estados Unidos e investigações apontam sua presença na Colômbia, Chile, Equador, Peru e Bolívia, tendo grande atuação nas regiões de fronteira.
A Polícia Civil de Roraima aponta que os irmãos venezuelanos Antônio e Daniel Cabrera são os dois líderes principais da facção no Brasil. Eles estão presos desde o ano passado por tráfico de drogas, homicídio qualificado e associação criminosa.
Preso em novembro, Antonio estava em uma fazenda em Mucajaí, cidade de Roraima, onde criava porcos. Lá, foram apreendidos com ele 32 mil dólares, joias e oito celulares. Mensagens que foram capturadas pelos investigadores evidenciam que ele negociava a compra de fuzis para o grupo.
A escalada do domínio da facção em Roraima se deu com o fluxo de imigrantes na fronteira, onde entre 2015 e 2024, mais de 568 mil venezuelanos entraram como refugiados no Brasil, buscando fugir da crise que assola o país sob a ditadura de Nicolás Maduro.
Desde então ocorreu uma escalada no número de assassinatos em Roraima, que passou de uma média de 60 por ano para mais de 200, segundo informações da Polícia Civil.
São justamente os imigrantes que se tornam as principais vítimas da facção, segundo informações da jornalista venezuelana Ronna Risquez, que escreveu o livro “Tren de Aragua: la banda que revolucionó el crimen organizado em América Latina”.
É relatado nas páginas da obra que a facção se aproveita da vulnerabilidade dos venezuelanos, cobrando taxas altas para levá-los em trilhas clandestinas para Brasil, Colômbia e Chile.
Com muitos deles endividados ou ameaçados de morte, eles tem que prestar serviços à facção, virando “mula” ao passar drogas e armas na fronteira, ou então passar a se prostituir ou adentrar o garimpo.
A expansão da facção tem preocupado as autoridades do governo federal brasileiro, de mopdo que o Ministério da Justiça monitora o avanço do grupo em cidades do Brasil.
Conforme informou o secretário nacional de Políticas Penais, André Garcia, os presídios de Roraima vivem um momento de tensão por causa do alto número de estrangeiros. O secretário afirma que irá enviar recursos para aumentar a oferta de vagas. No momento, há 418 venezuelanos nas cadeias do estado.
“Há um impacto muito grande em um sistema relativamente pequeno de presos. Esse número é quase uma unidade prisional inteira. Embora esteja tensionado, o sistema está controlado e retomado”, informou o secretário.