Abel reinventou o Palmeiras rumo ao título brasileiro com discurso, Endrick e novo esquema.
Não são poucos os adjetivos para definir Abel Ferreira no Palmeiras. Estudioso, centrado, autêntico, audaz, arrojado, atento, convicto, corajoso, engenhoso, genial, estrategista… E o maior deles, vencedor. Se há torcedores rivais que não gostam de suas atitudes, para o palmeirense ele é unanimidade: todos o consideram gigante. E a 12ª conquista nacional, que deve se confirmar nesta quarta-feira, pode ser colocada na conta do comandante português, que soube como ninguém tirar a equipe do buraco da eliminação da Libertadores para levá-la, ponto a ponto, ao topo da tabela quando ninguém mais imaginava ser possível desbancar o Botafogo, então líder com 13 pontos de vantagem.
Abel soube tirar o peso de sua equipe na lábia (além da competência) para se aproximar de mais um título do Palmeiras. Essa foi uma de suas artimanhas para uma volta por cima no torneio. A principal de suas sacadas foi jogar o favoritismo para o Botafogo. Os cariocas começaram a tropeçar, mas ele sempre dizia: “São os favoritos, estão com boa vantagem.” Nem mesmo a vitória, de virada, por 4 a 3, no Estádio Nilton Santos, fez o treinador mudar “suas convicções e falas”, sempre deixando o Palmeiras quieto no canto, correndo por fora.
Após cair nos pênaltis diante do Boca Juniors na semifinal da Libertadores, Abel tinha “um plano” para não passar os últimos meses da temporada apenas cumprindo tabela. E tudo o que planejou, deu certo. Não por acaso, Weverton tomou a palavra naquele jogo decisivo no Rio, para dar total mérito ao técnico, que reergueu o grupo no vestiário após sair em desvantagem de 3 a 0 diante do Botafogo.
MUDANÇA DE ESQUEMA
A segunda sacada do treinador para fazer a equipe voltar a ganhar e embalar na temporada veio na mudança do esquema tático. Depois de amargar a quarta derrota seguida no Brasileirão, com 2 a 0 para o Atlético-MG, ele resolveu investir nos três zagueiros, com a entrada de Luan ao lado de Gustavo Gómez e Murilo. O lateral-direito Marcos Rocha, improvisado, e o jovem Naves também foram usados no novo esquema.
O Palmeiras acertou sua defesa, largou mão da linha de quatro com dois laterais, com Mayke como um meia, e ganhou seis jogos sem ser vazado em série com 22 pontos somados de 27 possíveis. Rodada a rodada, a desvantagem para o líder foi caindo, até o time assumir de vez a liderança após fazer 3 a 0 no Inter e o Botafogo não ganhar seu jogo atrasado com o Fortaleza. Protegido na zaga, o time deixou de sofrer gols e passou a ser rápido e mortal na frente, repetindo a temporada passada.
11 FINAIS
Dar importância de definição de taça a cada jogo também foi outra sacada de Abel. Ao invés de ficar olhando na classificação, achando que a enorme desvantagem era inalcançável, ele atuou como uma espécie de “psicólogo” para entrar na mente dos jogadores e fazê-los acreditar, mesmo que essa confiança ficasse trancada a sete chaves no grupo.
Ninguém ousou falar em brigar pelo título na caça ao Botafogo. Mas todos tinham um discurso uniforme de que o próximo duelo era “uma final.” Virou um mantra no estilo contagem regressiva. “11, 10, 9, 8, 7, 6, 5 finais…”, eram palavras sempre proferidas pelo grupo, seguindo rigorosamente a ordem do treinador.
TITULARIDADE DE ENDRICK
Apesar de toda sua compreensão do elenco, Abel demorou para efetivar o jovem Endrick entre os titulares. Insistiu com Artur até cair na Libertadores e somente depois atendeu ao apelo popular de que o atacante de 17 anos seria uma salvação para o fim da temporada.
O menino, já vendido ao Real Madrid por uma fortuna, mostrou toda sua importância com jogadas e gols decisivos. “Toca em mim”, gritava diante do Botafogo, pedindo a bola, quando o jogo estava perdido. Foi o destaque daquela virada com dois gols. Ainda definiu o 1 a 0 sobre o Athletico-PR e marcou diante de Internacional e América-MG. Com dez gols, Endrick assumiu a artilharia do time no Brasileirão, ultrapassando Raphael Veiga, e ainda participou de muitas boas jogadas que resultaram em bola nas redes adversárias.
LATERAIS VIRAM ATACANTES
Antes tímidos na marcação, Piquerez e Mayke cresceram bastante quando Abel modificou o sistema tático com três zagueiros e os deixou livres para atacar. Alas ofensivos, uruguaio e brasileiro fizeram ou deram várias assistências para os gols da equipe.
A prova de que o esquema com alas livres deu certo, além das tantas assistências e oportunidades criadas, veio com o jovem Vanderlan, reserva de Piquerez, entrando e realizando grande jogada para Rony fechar a vitória sobre o Inter. O uruguaio, além de servir Flaco López no jogo passado, contra o América, tinha sido o destaque no goleada por 5 a 0 sobre o São Paulo, na qual anotou duas vezes para colocar o time, na época, na terceira colocação.
Em suas declarações de semanas atrás, Abel chegou a dizer que ele era pago para tomar decisões. Foi exatamente isso o que fez para colocar o Palmeiras no topo do Brasileirão e na iminência de ganhar mais um título.