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Engenheira acusa Rede Globo de ter sido estuprada dentro da emissora

Brasil – A engenheira e radialista paraibana Esmeralda Silva foi trabalhar na Globo no segundo semestre de 2016, para cuidar da transmissão de programas jornalísticos e esportivos, além de eventos como Carnaval e Lollapalooza.

Esmeralda Silva é um nome fictício. Ela teme represália por parte de seus agressores. Seu cargo era o de “engenheira de sistema de TV II”. Ela conta ter sofrido assédio sexual e, sobretudo, um estupro dentro da emissora. Atualmente, ela move um processo contra a empresa.

Esmeralda segue atualmente como funcionária da Globo, embora afastada por problemas de saúde como depressão e burnout. Dos quatro acusados por ela de assédio, apenas um permanece trabalhando na emissora. Aparentemente, o primeiro assediador, o mesmo que é acusado de estupro, foi demitido em razão das denúncias por assédio moral e xenofobia de que foi alvo.

Atualmente, Esmeralda toma ansiolíticos e estabilizadores de humor e tem um quadro que os médicos chamam de depressão crônica.

O relato

Seu relato sobre o caso de estupro, dado em detalhes à Revista piauí, é, no mínimo, estarrecedor:

“Eu estava sentada de frente para uma tela, configurando um satélite que receberia um sinal de link ao vivo de Belém, para o Jornal Hoje. Então, ele girou a cadeira e deslizou na minha direção, dizendo que iria acessar um e-mail por um computador compartilhado pela equipe. Aí me disse: ‘Você é muito gostosa, olha só como eu estou’, e foi pegando no pênis por cima da calça. Ele me encurralou com a cadeira junto da parede. Quando fui me levantar, ele colocou a mão na minha parte íntima, enfiando o dedo em mim, e me disse: ‘Fica caladinha, não se mexa, ninguém vai acreditar em você.’ Então ele me mandou abrir a perna. ‘Eu estou nessa porra há muitos anos, abra a perna que você não é ninguém.’ Eu gelei, chorei, fiquei sem reação nenhuma. Fiz o que ele mandou. Naquele momento, eu queria morrer ou entrar num buraco para nunca mais passar por aquilo. Com uma das mãos, ele forçou a minha vagina; com a outra, pegou a minha mão que segurava o encosto da cadeira e colocou em cima do pênis.”

Um funcionário bateu na janela da sala para entregar um cartão de memória e encerrou o suplício. O sujeito se levantou para pegar o dispositivo. Esmeralda saiu às pressas e teve uma crise de choro dentro do banheiro. “Fiquei com muito nojo de mim mesma. Lavei várias vezes as minhas mãos com o sabonete. Depois fui para o jardim. Me sentei e chorei, chorei e chorei”, diz ela, em meio às lágrimas. “Voltei à sala depois de mais de meia hora. Por sorte, havia outras pessoas por lá. Ele me olhou e não falou nada, era como se eu não estivesse ali.”

Ela conta que avisou seu chefe sobre os casos de assédio moral e xenofobia, mas não teve coragem de relatar os abusos sexuais. “Cheguei a ir diversas vezes ao RH, pronta para dizer tudo, mas chegando lá eu tremia e mudava de assunto. Eu tinha medo de perder o emprego, de acharem que a culpa era minha.”
Demissões

O assediador que a teria estuprado foi desligado da emissora no primeiro semestre de 2018. Na ocasião, um supervisor e um gerente disseram a Esmeralda: “Tiramos a pedra do seu caminho.” Os casos de xenofobia e assédio moral, pelo menos esses, não eram segredo para ninguém.

Apesar de seus problemas de saúde, no dia 8 de outubro de 2018 a engenheira foi demitida sem que lhe apresentassem uma razão clara.

O médico que fez seu exame demissional e estava a par de seu quadro de depressão não permitiu o desligamento – pediu que procurasse um psiquiatra para atestar a sua condição psicológica. Esmeralda foi então informada para seguir a escala de trabalho da equipe.

Ela teve uma crise de choro ao passar pelo portão e sofreu um desmaio perto de um ponto de ônibus. Foi socorrida por um guarda municipal. Embora não tenha sido demitida, ela nunca mais voltou a pisar na Globo.
Caso no MP-RJ

O caso foi parar no Ministério Público do Trabalho no Rio de Janeiro através do procurador Francisco Araújo. “Escolhemos fazer a denúncia no Rio porque o Ministério Público do Trabalho do Rio tem sido mais rigoroso com essa questão de assédio. Na verdade, denunciamos o caso de duas ex-funcionárias da Globo, não apenas uma”, conta o dirigente sindical Josué Brito dos Santos, ele próprio ex-funcionário da emissora. O procurador Araújo entrou em contato com as duas mulheres, mas apenas Esmeralda Silva aceitou prestar depoimento.

Araújo propôs a ação civil pública contra a Globo, que ganhou o número 0100.450.19.2022.5010036. A primeira audiência de instrução será neste 25 de maio.

Procurada pela piauí, a Globo voltou a afirmar que não faria comentários sobre o caso de Esmeralda porque está tramitando na Justiça.

Via: Revista Fórum

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