Belém do Pará

Vias sem condições estruturais revoltam moradores de Belém

“Só Jesus na causa”, disse o eletricista Nilton Santos, 46 anos, ao se referir à avenida Celso Malcher, a principal do bairro da Terra Firme. Um trecho da via, esburacada, está sempre alagado, situação agravada com as chuvas. Esse perímetro fica entre as passagens Ligação e do Arame. Ali, há uma ponte de madeira, que, ainda segundo os moradores, sempre quebra. Na semana passada, um morador fez um protesto inusitado. Ele colocou um papelão, em tamanho real, com a imagem do prefeito Zenaldo Coutinho. No vídeo, que circula nas redes sociais, ele diz: Nós estamos aqui na avenida Celso Malcher. Por mais que você não queira acreditar, isso aqui é uma avenida. A avenida mais importante do bairro”. No vídeo, o morador está com a água próximo ao joelho, pois, nesse dia, a avenida estava bem alagada. “A UIPP (Unidade Integrada Pro Paz) fica bem próximo e, no final, depois desse aguaceiro aqui, é a Eletronorte. E tem uma escola pública ali”, completou. No vídeo, o morador chama Zenaldo de “prefake”.

Daniel Ferreira, 56, mora há 20 anos na Celso Malcher, onde também tem uma venda de açaí. “A situação piorou há uns dois anos. Essa ponte só vive quebrada. Todo ano ela quebra”, disse. Daniel afirmou que essa ponte deveria ser de concreto e não de madeira. Ele acrescentou que o canal que corta a rua, o Vera Cruz, só “vive entupido”. O canal, de fato, está sujo. Há muito mato dentro do canal. Nesse trecho da avenida, carros transitam com dificuldade, sobretudo os de pequeno porte. Ciclistas e motociclistas têm que cruzar esses pontos de alagamento. (Fábio Costa)

“Quando chove, o pessoal que anda de moto vai pela calçada”, disse Daniel. O vendedor de açaí afirmou que outra alternativa é elevar o nível da calçada, para evitar, assim, que as águas invadam as casas. Ele contou que já mandou fazer esse serviço duas vezes. A cada serviço, o nível foi aumentado em 30 centímetros em relação ao solo. Daniel disse que já gastou R$ 3 mil, com mão de obra e material de construção. O morador disse, ainda, que esses pontos de alagamento nunca secam. “Eles (prefeitura) têm que jogar aterro e, depois, asfaltar a avenida. E, também, drenar esse canal”, afirmou. Nilton Santos, o eletricista, que se criou na Celso Malcher, acrescentou que basta uma “chuvinha” para a rua ficar alagada. “Nunca seca”, afirmou. Ele também defendeu uma limpeza do canal, em cujas margens há o depósito de lixo e entulho.

O eletrotécnico José Maria Brandão, 65 anos, mora em frente a um desses pontos de alagamentos, próximo à passagem Arame. “Não tá feio aqui. Tá horrível”, disse. “Sábado (dia em que choveu muito na cidade), ficou uma baía aqui. Ficou um rio”, afirmou. Morando no local há mais de cinco anos, Brandão, como é mais conhecido, afirmou que basta chover para inundar a rua. “E, para sair de casa, tem que ser por dentro da água. Tira o sapato, meia”, lamentou. O morador disse que os tubos colocados nas laterais da avenida são “finos” e não suportam o volume das águas da chuva. “É muita água, enche tudo. Já pensei em me mudar (da rua), mas não tem como”, contou.

A situação também é crítica na passagem Ligação. Aqui, além de buracos e lama, há uma ponte de madeira que está quebrada. Por isso, veículos não passam naquele trecho da passagem, localizado entre as passagens Brasília e São Cristovão. Sem poder contar com outra alternativa, ciclistas e condutores de moto têm que passar pelo alagamento. São grandes as poças de água. E os pedestres, com dificuldade, vão “beirando” pelas calçadas, para não pisar no aguaceiro. “Tá escroto”, disse uma motociclista ao perceber a presença da equipe de reportagem. Ele disse essa frase e fez, com o dedo, sinal de negativo. “Uma calamidade”, completou um ciclista, que, em seguida, cruzou o alagamento, correndo o risco de cair.(Fábio Costa)

Se estivesse trafegável, a passagem ligaria a Terra Firme ao bairro do Guamá, chegando, por exemplo, à Universidade Federal do Pará. “Mas a passagem não está ligando a nada”, disse um rapaz, mostrando que, ali perto, a travessa Dom Manoel, onde também há uma ponte quebrada e muito mato. E, também por ser uma via estreita, não há como trafegar veículos pela passagem Dom Manoel. Moradores da passagem Ligação já até usaram uma canoa, quando a rua está alagada. Foi uma crítica para chamar a atenção das autoridades municipais. Mas o problema continua.

A Prefeitura de Belém informou que as vias citadas nessa matéria estão localizadas na Bacia do Tucunduba, onde obras de macrodrenagem são gerenciadas pelo Governo do Estado. O canal Tucunduba é responsável pela drenagem das vias do bairro da Terra Firme e entorno. Equipes da Secretaria de Saneamento (Sesan) realizam limpeza regular em vias e canais do bairro. “No entanto, sem o avanço das obras de macrodrenagem, as águas não terão condições adequadas de escoamento. Com relação à ponte de madeira quebrada, equipe da Sesan fará uma vistoria técnica para avaliar a situação da mesma e programar os reparos”.

A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Obras Públicas (Sedop) informa que o Governo do Estado é responsável pela obra de macrodrenagem do Tucunduba, que irá beneficiar a população de vários bairros, inclusive da Terra Firme. Entretanto, a conservação de malhas viárias e limpeza dos canais é responsabilidade da administração municipal, a quem cabe responder sobre a conservação das vias relatadas.

Sobre as obras do Tucunduba, as duas primeiras fases já estão em fase de execução e vão da rua São Domingos até a Mundurucus. A Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) está em licitação, e a obra também está na fase de recomposição do Talude e construção de passarelas e pontes, além dos serviços de drenagem e, posteriormente, a terraplanagem do referido trecho.

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