Homem morre queimado em ritual religioso na ‘Cova dos Ossos’
Em muitas cidades brasileiras, práticas de fé se misturam a tradições populares, símbolos e rituais que carregam significados profundos para os participantes. Mas, quando a falta de segurança se sobrepõe à devoção, a linha entre o espiritual e o trágico pode se tornar muito tênue. Foi o que aconteceu em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, onde uma cerimônia religiosa terminou em incêndio, morte e uma investigação policial que levanta suspeitas de negligência.
O caso ocorreu em 20 de julho, em um imóvel no bairro Jardim Laura, usado como templo religioso sob o nome “Cova dos Ossos”. A vítima fatal foi Jefferson Charles Cano, de 47 anos, que sofreu queimaduras em 60% do corpo e não resistiu aos ferimentos. A esposa dele, Elaine Teberga Cano, segue internada em estado grave na UTI do Hospital Notre Dame. Outras oito pessoas também precisaram de atendimento médico.
Segundo laudos do Instituto de Criminalística, o incêndio foi provocado pelo uso de etanol em um caldeirão aceso dentro de um ambiente fechado, sem cuidados adequados de segurança. Testemunhas relataram ainda a presença de crianças no local no momento da tragédia.
SOCORRO IMPROVISADO
As investigações revelaram que não houve acionamento do SAMU nem do Corpo de Bombeiros; os feridos foram levados em veículos particulares. Imagens de câmeras de segurança confirmam o socorro improvisado. A Polícia Civil apura também uma possível tentativa de alteração do cenário do incêndio, já que extintores de incêndio só foram instalados 23 dias depois, em 12 de agosto. Para a delegada responsável, Liliane Lopes Doretto, o fato levanta indícios de fraude processual.
Entre os investigados estão os dirigentes do espaço, Angélica Lopes Della Torre e Pedro Henrique, além de auxiliares. Eles são apontados como responsáveis por negligência e por terem assumido o risco da tragédia, em uma hipótese que pode configurar dolo eventual. Até agora, ninguém foi preso.
CONDUTAS DE RISCO
A Polícia Civil informou que já ouviu vizinhos e participantes do ritual e que segue com diligências, análise de laudos e requisições médicas. Em nota, a corporação reforçou que a apuração não tem como alvo a fé ou a liberdade religiosa, mas sim as condutas consideradas de risco que resultaram em morte e ferimentos.
O espaço “Cova dos Ossos” segue em funcionamento, enquanto a investigação permanece em curso.