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Ataque de Israel em Gaza mata 6 jornalistas; 4 são da Al Jazeera

Pode parecer que a tragédia se tornou rotina naquela faixa estreita e atormentada chamada Gaza, onde, mais uma vez, a notícia chega em meio a destroços e dor. Na noite de domingo (10), um ataque do exército israelense deixou pelo menos seis jornalistas mortos, incluindo quatro profissionais da emissora Al Jazeera, renovando o drama dos que arriscam a vida para levar ao mundo a realidade da guerra.

Segundo informações do hospital Al-Shifa, seis jornalistas perderam a vida na ofensiva, que também causou a morte de ao menos mais uma pessoa, conforme detalhou o diretor Mohammad Abu Salmiya. Entre as vítimas estavam Anas Al-Sharif e Mohammed Qreiqeh, ambos repórteres destacados da Al Jazeera em Gaza.

As Forças de Defesa de Israel (FDI) alegaram que Anas Al-Sharif não era apenas um jornalista, mas o líder de uma célula do Hamas responsável por ataques com foguetes contra civis e tropas israelenses. “As FDI já haviam divulgado informações de inteligência e muitos documentos encontrados na Faixa de Gaza confirmando sua filiação militar ao Hamas”, afirmou o Exército em comunicado oficial.

Porém, antes de morrer, Al-Sharif se manifestou publicamente em defesa da sua missão jornalística: “Reafirmo: eu, Anas Al-Sharif, sou um jornalista sem afiliações políticas. Minha única missão é relatar a verdade de onde se encontra – como ela é, sem preconceitos.” E em suas redes sociais, alertou: “Se essa loucura não acabar, Gaza será reduzida a ruínas, as vozes de seu povo silenciadas, seus rostos apagados, e a história se lembrará de vocês como testemunhas silenciosas de um genocídio que vocês escolheram não impedir.”

A Al Jazeera condenou o ataque e ressaltou que a morte de seus profissionais representa “uma tentativa desesperada de silenciar vozes antes da ocupação de Gaza”. Amigos e colegas compartilharam ainda uma mensagem póstuma deixada por Al-Sharif, onde ele pede para que “não se deixem silenciar por correntes, nem sejam impedidos por fronteiras, e que sejam pontes para a libertação da terra e de seu povo.”

Organizações internacionais também manifestaram preocupação. A relatora especial da ONU para liberdade de expressão, Irene Khan, classificou as acusações contra Al-Sharif como “ataques online e acusações infundadas” e declarou estar “profundamente alarmada com as repetidas ameaças e acusações do Exército israelense contra Anas Al-Sharif, o último jornalista sobrevivente da Al Jazeera no norte de Gaza.”

Já o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) destacou que o profissional vinha sofrendo uma “campanha de difamação militar israelense” que ele acreditava ser um “precursor de seu assassinato”. Desde o início do conflito, o CPJ contabiliza 186 jornalistas mortos em ataques relacionados às operações israelenses.

No meio de acusações e denúncias, a guerra em Gaza segue ceifando vidas, não só de combatentes e civis, mas também daqueles que tentam, contra todas as probabilidades, manter viva a chama da informação jornalística.

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