Coari contrata empresa de aluguel de carros por R$ 2,7 milhões para fornecer brinquedos
Em mais um episódio que escancara a fragilidade dos critérios utilizados nas contratações públicas, a Prefeitura Municipal de Coari, na gestão de Adail Pinheiro (Republicanos), firmou um contrato de R$ 2.786.792,92 com uma empresa cuja atividade principal é aluguel de automóveis sem condutor. O objeto da contratação? Fornecimento de brinquedos e jogos educativos para crianças da rede municipal de ensino.
A empresa contratada, Hadar Manutenção e Conservação e Empreendimentos Ltda (CNPJ nº 17.577.025/0001-55), consta na Receita Federal como atuante no setor de locação de veículos, e não no fornecimento de materiais pedagógicos ou brinquedos. Mesmo assim, foi escolhida pela Secretaria Municipal de Educação de Coari (SEMED) para entregar milhares de brinquedos como cubos didáticos, dominós de madeira, bolas terapêuticas e pranchas com formas geométricas — todos, segundo o contrato, com selo do INMETRO.
A adesão foi formalizada por meio do Processo Administrativo nº 219/2025 – SEMED, com base no Decreto nº 7.892/2013 e na já conhecida Lei nº 8.666/1993, que permite a adesão a atas de registro de preços — um mecanismo frequentemente questionado por facilitar contratações sem licitação direta, abrindo brechas para favorecimentos e contratos de difícil rastreabilidade.
Não há, até o momento, evidência pública de que a Hadar possua experiência prévia no fornecimento de materiais didáticos em grande escala. A ausência de histórico nessa área coloca em dúvida sua capacidade técnica para executar um contrato desse porte, com itens sensíveis destinados à primeira infância, que exigem não apenas qualidade, mas também segurança e conformidade técnica rigorosa.
O contrato prevê o fornecimento de mais de 14 mil unidades de brinquedos e jogos educativos, entre eles:
- 3.004 brinquedos tipo montanha-russa de madeira – R$ 474 mil
- 3.004 kits de atividades corporais – R$ 1,58 milhão
- 3.004 dominós infantis – R$ 218 mil
- 504 brinquedos infláveis tipo “joão bobo” – R$ 70 mil
- Entre outros itens detalhados no Anexo I do contrato
“Economia” ou conveniência?
A Prefeitura de Coari justifica a adesão com base em uma suposta economia obtida em relação a orçamentos de mercado. Além disso, não foram divulgados estudos técnicos ou pareceres que atestem a compatibilidade entre a atividade da empresa e os itens adquiridos, tampouco relatórios de capacidade operacional ou logística para atender ao município.
Silêncio oficial
O Núcleo de Reportagem Investigativa do Portal Alex Braga procurou a prefeitura de Coari para falar sobre o contrato, mas até a publicação desta matéria não obtivemos respostas. O espaço segue aberto para esclarecimentos.
Fonte: Portal Alex Braga
