Ele se escondia na minha cueca”: menino autista revela abusos de professor de creche em Florianópolis
Menino autista revela como era abusado por professor preso por pornografia infantil em creche de Florianópolis. Relato reforça linha de investigação.
A rotina parecia comum para quem via de fora. O menino chegava à creche, passava o dia sob os cuidados da equipe pedagógica, e voltava para casa. Mas algo começou a mudar — de forma sutil, quase imperceptível para quem não convivia diariamente com ele. O que parecia resistência para entrar em sala de aula era, na verdade, um pedido silencioso de socorro.
O filho, uma criança autista de 5 anos, frequentava a mesma unidade de educação infantil há quatro anos. Desde o início, era aluno do mesmo auxiliar de sala: Allec Sander de Oliveira Ribeiro, hoje preso por armazenar e produzir pornografia infantil — com parte do material, segundo a polícia, feito dentro da própria creche pública de Florianópolis onde trabalhava.

No início, o menino não falava. Não conseguia expressar verbalmente o que sentia ou vivia. Mas, com o passar do tempo e o avanço nas terapias, começou a se comunicar melhor. Foi só então que a verdade começou a emergir — não com palavras completas, mas com gestos, sinais e pequenos detalhes que a mãe, enfim, entendeu.
A mudança de comportamento
A mãe conta que começou a notar atitudes estranhas em casa. O filho insistia em mostrar suas partes íntimas, imitava gestos inapropriados e passou a evitar o toque de adultos, especialmente de homens. “Ele não queria mais entrar na sala. Dizia que não queria ir para a creche. Isso foi ficando cada vez mais frequente, e o comportamento dele foi mudando”, relatou.
Ela procurou a equipe da creche e compartilhou sua preocupação. A professora titular da turma — que, segundo ela, sempre se mostrou atenta — também havia percebido mudanças. Relatos indicam que essa professora evitava deixar Allec Sander sozinho com as crianças, mas isso nem sempre era possível. Ele aproveitava justamente os momentos em que ficava sozinho na sala, como durante o horário do sono ou quando a regente precisava sair.
“O professor brincava de caverna comigo”
Ao ser questionado sobre o que acontecia na escola, o menino deu a resposta que a mãe nunca imaginou ouvir. Disse que o “professor brincava de caverna” com ele. Sem entender, a mãe pediu que explicasse. Foi quando a criança fez um gesto com a mão, indicando uma movimentação por baixo da cueca. Apontou para si mesmo e disse que o professor “se escondia ali”.
A criança, em sua limitação e inocência, não tinha consciência exata do que significava aquela “brincadeira”. Mas os sinais eram evidentes. Ele começou a reproduzir os gestos em casa e, ao ser questionado, falava com naturalidade, como se fosse parte da rotina da creche. A mãe contou que o filho “não mente”, justamente por ser autista — ele diz o que pensa, sem filtro.
Desconfiança tardia e dor antecipada
Um ano antes dos relatos, a mãe já desconfiava de alguns comportamentos, mas não tinha elementos concretos para suspeitar de abuso. O menino não queria mais que o pai tomasse banho na frente dele. Passou a isolar-se e se mostrava desconfortável com toques. Ainda assim, era difícil associar isso a algo tão grave.
A situação ficou ainda mais difícil quando a própria equipe pedagógica informou que, ao saber da prisão de Allec Sander, a primeira criança que veio à mente de todos foi justamente o menino. Por ser autista, mais vulnerável e por apresentar mudanças comportamentais mais evidentes, ele era, possivelmente, um dos principais alvos.
“Eu confiava nele. Meu filho estava há quatro anos com ele”
Para a mãe, a dor maior não vem apenas da violência sofrida pelo filho, mas da traição de confiança. “Eu confiava nele. Era o professor do meu filho há quatro anos. Vai saber o que ele já não fez antes, e que meu filho nunca conseguiu explicar”, desabafou.
Hoje, o menino já demonstra maior tranquilidade ao ir para a creche. A professora regente, segundo a mãe, foi fundamental para protegê-lo em muitos momentos, evitando que Allec o pegasse no colo ou ficasse sozinho com ele. Mas nem sempre foi possível impedir. A investigação agora busca identificar a extensão dos abusos, e se o nome do menino aparece entre os milhares de arquivos que estavam sob posse do acusado.
Uma cidade em alerta
Allec Sander de Oliveira Ribeiro segue preso. A Polícia Civil e a Polícia Científica ainda analisam o material apreendido, que inclui vídeos e fotos feitos dentro da creche. Ao menos seis vítimas já foram identificadas. A pena pode ultrapassar os 20 anos de reclusão.
A mãe do menino diz estar destruída. Mas, ainda assim, segue buscando justiça. “Eu não tenho certeza se ele fotografou meu filho. Mas eu tenho quase certeza. E se ele fez isso… que pague. Porque meu filho não merecia isso. Nenhuma criança merece.”