Ex-prefeito de Nova York faz alerta: “Se eu fosse brasileiro, ficaria preocupado com os EUA”
Mundo – Durante o último dia do 2º Seminário Internacional de Segurança Pública, Direitos Humanos e Democracia, realizado em São Paulo, o ex-prefeito de Nova York, Bill de Blasio, expressou preocupação com a possibilidade de os Estados Unidos, sob a liderança de Donald Trump, usarem a classificação de organizações criminosas brasileiras, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), como terroristas para fins políticos.
A declaração foi feita em meio a debates sobre segurança pública e soberania nacional, promovidos pelo Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE) em parceria com o Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP). Blasio, que participou do evento reunindo governadores, parlamentares e representantes da sociedade civil, destacou a sensibilidade da proposta norte-americana, apresentada em uma reunião com o governo brasileiro neste mês.
Segundo ele, a pressão dos EUA para que o Brasil enquadre essas facções como organizações terroristas pode esconder “objetivos políticos nefastos”. “Se eu fosse brasileiro, ficaria preocupado com os Estados Unidos usando algo que deveria ser uma ferramenta jurídica para combater o terrorismo e transformá-la em uma ferramenta política”, afirmou o ex-prefeito. A proposta dos EUA, discutida com representantes do Ministério da Justiça e do Itamaraty, foi rejeitada pelo governo brasileiro. A justificativa é que, pela legislação nacional, o enquadramento de uma organização como terrorista exige motivações de cunho religioso ou racial, o que não se aplica ao PCC e ao CV, que são grupos voltados principalmente para o crime organizado.
Implicações internacionais e soberania A sugestão americana levanta questões sobre a soberania brasileira e possíveis consequências práticas. Caso as facções fossem classificadas como terroristas, membros desses grupos presos nos Estados Unidos poderiam ser transferidos para o Centro de Confinamento de Terroristas (Cecot), em El Salvador, a maior prisão da América Latina, inaugurada em 2022 e destinada a abrigar indivíduos classificados como terroristas. Essa possibilidade, segundo Blasio, reforça a necessidade de cautela por parte dos países latino-americanos diante de intervenções externas. “É compreensível que governos da região se preocupem com a intromissão dos Estados Unidos em questões internas”, destacou.
O ex-prefeito também alertou para o risco de a medida servir a interesses políticos de Trump, que poderia usar a classificação para pressionar o Brasil ou outros países da região em negociações diplomáticas ou econômicas. “Se alguém acha que isso não é possível, é porque não está prestando atenção”, enfatizou. Seminário reforça debate sobre segurança e democracia O 2º Seminário Internacional de Segurança Pública, Direitos Humanos e Democracia, que ocorreu ao longo de quatro dias em São Paulo, trouxe à tona discussões cruciais sobre o equilíbrio entre segurança pública, proteção dos direitos humanos e preservação da democracia.
A participação de figuras como Bill de Blasio reforça a relevância do evento como um espaço de diálogo entre atores políticos e sociedade civil, especialmente em um contexto de crescente polarização global. A posição do governo brasileiro, ao rejeitar a proposta dos EUA, reflete a prioridade de manter a autonomia na definição de políticas de segurança pública e no enquadramento legal de organizações criminosas.
Enquanto isso, as declarações de Blasio acendem um alerta sobre os impactos de influências externas em decisões que afetam diretamente a soberania e a segurança dos brasileiros.