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Fernanda Aryel, está a um passo da política

Aryel faz jus ao que a Biblia diz sobre seu nome: tem doçura, sentimentos elevados mas é uma leoa quando necessário. Confira o que ela revelou ao ÚNICO nessa entrevista especial sobre ser filha do prefeito David Almeida, mãe, estudante de medicina, esposa e atuar como presidente nacional do Grupo de Jovens do Avante!

Único – A senhora participou de algumas ações institucionais da Prefeitura de Manaus, mas nunca ocupou um cargo oficial na gestão do seu pai, o prefeito David. O que a motivou a se manter à margem de um papel mais formal na administração municipal? Há algo específico que a impede de atuar diretamente?

ARYEL – Tudo tem seu tempo determinado, já dizia Salomão. Meu pai vive um sacerdócio lindo, construído por anos com dedicação, sacrifícios e muito preparo. Amo o processo político, amo pessoas, participo ativamente da atividade partidária como presidente nacional da juventude do Avante, mas sou do time que pensa em se qualificar primeiro. Decidi focar nos estudos (medicina), no casamento e na bênção que é a maternidade. E todas estas experiências ensinam algo muito especial: cuidar de pessoas. Minha vida é sobre isso e é reflexo do exemplo deixado por minha avó, Rosa Almeida. O tempo agora é de preparo.

ÚNICO – O prefeito David, frequentemente elogia sua capacidade e disposição para a política, e você é filiada ao Avante. O que a tem feito adiar uma possível candidatura? Esse é um caminho que você considera em um futuro próximo?

ARYEL – Esta é uma pergunta que surge constantemente. Há sempre aquela expectativa se vou seguir os mesmos passos de meu pai. Mas não é algo que tenha uma resposta clara. Certamente a política é um grande instrumento da sociedade e precisamos de mais e mais pessoas participando dela. Principalmente mulheres. Nunca fui candidata, mas sigo nas mobilizações, balançando bandeira, defendendo nossos candidatos, defendendo os ideais de uma gestão trabalhadora. E faço isto com o mesmo entusiasmo como se a candidatura fosse minha. Se esse dia vai chegar ou não, fica a cargo dos planos de Deus para minha vida. Mas não é algo onde estão fixados meus pensamentos.

ÚNICO – A representatividade feminina na política do Amazonas ainda é baixa. Como mulher, e com sua visibilidade pública, você sente a responsabilidade de ser uma voz ativa para mudar esse cenário? Quais barreiras acredita que ainda precisam ser superadas?

ARYEL – Em qualquer lugar do Brasil e do mundo a participação feminina na política é um grande desafio. Vem do Amazonas a primeira senadora pelo voto popular da história do Brasil, professora Eunice Michiles. Ela é a segunda senadora, se considerarmos que a Princesa Isabel teve por direito dinástico esta função. Estamos falando de duas mulheres que marcaram nossa história em suas épocas. Seus exemplos são como um farol para todas as mulheres de que podemos muito mais. Mas os números de mulheres eleitas que as sucedem mostram que ainda existem barreiras quase intransponíveis. Dependendo da função política, são horas incontáveis de reuniões, viagens, planejamento, ações. Isto requer em muitos casos uma ausência maior de casa. Em geral isto é muito doloroso para a mulher. Principalmente se tem crianças recém nascidas, que dependem mais da presença da mãe. Então até nisto a mulher precisa se planejar e contar com uma rede de apoio bem maior. Ultimamente, graças à atuação feminina nos parlamentos, tem se buscado equilibrar melhor estas necessidades. Mas além de serem conquistas recentes, ainda são tímidas. Ainda há barreiras não apenas legais, mas culturais. Este debate não é sobre mulheres contra os homens, mas sobre mulheres com os homens, ao lado, buscando construir um ambiente saudável e harmonioso para todos.

ÚNICO – Se um dia decidir se candidatar, quais seriam suas principais bandeiras e áreas de atuação? Há algo que você já tenha identificado como prioridade para defender caso entre na política? Há algum cargo que desperte mais tua atenção? Câmara Federal, por exemplo…

ARYEL – São muitas perguntas em uma só rsrs. Mas sobre bandeiras, acredito que limita muito a atuação quando foca em poucas pautas. É mais fácil para discorrer em uma entrevista, por exemplo, tratar de temas gerais. Claro que tenho uma maior afinidade com a saúde, devido minha área de estudo e por sua importância inquestionável, mas tenho visto a luta de meu pai para melhorar algumas outras áreas importantíssimas em Manaus que há muito tempo precisava de atenção: transporte público, sistema viário, segurança, proteção e cuidado com nossos idosos e a causa autista. Também sou fã do nosso potencial no setor primário, cultura e turismo. E quão mais a gente vai falando, mais coisas vem à mente. Mas uma coisa é certa, independente do cargo, cabe o todo agente público a responsabilidade de ouvir e transformar as sugestões ou reclamações em soluções. Algumas demandas são mais fáceis, outras requerem anos e o comprometimento de várias gestões para solucionar. E é aqui que entra o cargo mais importante que é onde me concentro atualmente: a de eleitora. Um voto pode sim fazer toda a diferença. E apoiar quem está disposto a ouvir e trabalhar pode fazer toda a diferença.

ÚNICO – Conte um pouco da sua história, de criança a adulta, como foi esse processo e nessa caminhada, como você lidou com a separação de seus pais? Você tinha quantos anos à época?

ARYEL – Tive uma infância muito feliz. Apesar das adversidades que as poucas condições sempre trazem, vivi as alegrias de crescer na casa de minha avó, no Morro da Liberdade, onde todos moravam juntos. Família grande, animada, solidária. Meus pais eram muito jovens quando nasci. Não tenho recordações de quando seguiram rumos diferentes pois ainda era bebê. O cuidado que sempre tiveram comigo me fez crescer livre de qualquer trauma ou coisas assim. Só tenho lembranças positivas. Desde o futebol aos banhos na chuva, dos estudos no Colégio Adventista do Morro e do meu crescimento pessoal e espiritual na Igreja, seja no clube de Aventureiros, Desbravadores, Ministério Jovem e Ministério da Música, onde desenvolvi meu amor pelo louvor, fui feliz. Esta é minha base. Ambiente onde aprendi lições e princípios que hoje transmito para minha filha. Foi por volta dos 12 anos que a política entra na minha vida. Participei da trajetória de meu pai desde o início. Lembro de entregar santinho ao lado dele, de vê-lo pintando os muros das casas, dos grandes comícios e das pequenas reuniões. Não tinha tempo ruim. Ao relembrar tudo o que vivemos ao lado de meu pai, sinto ainda mais orgulho e inspiração. Paralelo a tudo isso, sempre fui dedicada aos estudos. Aos 17 anos ingressei na UFAM (Universidade Federal do Amazonas) aprovada no curso de Engenharia Química. É uma área fascinante, mas interrompi na metade do curso por entender que minha vocação estava em outra direção. Foi no curso de medicina que encontrei minha vocação. Os exemplos de Cristo, de minha avó e de meu pai consistiam em ajudar os mais necessitados e aflitos. E quero seguir esse legado solidário. Aos 27 anos me caso com o Gabriel e aos 29 vivo uma das maiores realizações em minha vida me tornando mãe da Helena Rosa. Vivemos uma sequência de perdas dolorosas como o falecimento de minha ex-madrasta Lúcia Almeida, tio Delano Almeida e minha maior referência de vida, minha avó Rosa Almeida. Sempre me emociono com essa lembrança. E a chegada da Helena veio como um bálsamo no meio de toda essa dor que aos poucos se converte na mais linda saudade. Em julho deste ano, aos 30 anos, me torno médica, determinada a fazer de toda essa trajetória um instrumento de motivação e transformação para outros jovens que também cresceram na periferia e confiam no poder da fé.

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