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Vídeo: mar avança, derruba casas e causa prejuízos nas regiões litorâneas do Brasil

Do litoral paulista às praias do nordeste, o mar dá sinais rápidos de avanço e aumenta a tensão de quem se acostumou a viver nesses locais por décadas e que agora vivencia a mudança brusca das paisagens. O que antes ficava, apenas, no campo das projeções e previsões ambientais já faz parte do dia a dia de milhares de pessoas que vivem ao longo dos mais de 7,4 mil km de faixa costeira no país. O avanço do mar sobre faixas de areia e propriedades particulares já é realidade em alguns locais do litoral brasileiro.

No dia 20 de agosto, mais uma casa foi destruída pela força das águas do mar na Praia do Saco, em Estancia-SE, cidade que fica a 70 km de Aracaju. Segundo o proprietário, um médico de Aracaju, a casa já havia passado por um reforço da estrutura. Foi contratado um serviço para colocar manilhas cheias de concreto, muro de alvenaria e reforço de pedras pelo lado interno, mas a força da maré levou tudo.

O presidente da Associação Comunitária de Moradores da Praia do Saco, Camilo de Lelis Ramos, diz que viver na região virou sinônimo de “tensão eterna”. “A situação está mudando rapidamente. Onde o mar chegou, ele não recuou mais. Só avançou”, descreve ele.

“O mar levou tudo, como se fosse açúcar. Se você visse como ficou, você não acreditaria. Fizemos cinco espigões na praia para segurar a água, mas o mar já levou três deles. A força da água é um espetáculo bonito de ver, mas de viver, não. O coração aperta. Quando chegamos aqui, era a maior paz, com faixa de areia extensa. Hoje sabemos que é questão de tempo. Pelo menos, 60 casas estão com os dias contados”, relata Camilo.

Além desta, pelo menos outras 14 foram atingidas e desocupadas no local, nos últimos anos, em razão do avanço do oceano. Já há algumas décadas, os moradores e pescadores da Praia do Saco lidam com os prejuízos causados pelo avanço do mar. Ao longo do tempo, eles adotaram medidas para conter a água e proteger as propriedades, como a implantação de barreiras de pedra, mas tudo foi sendo levado pela força da maré.

O poder público está sendo constantemente desafiado, sobre quais medidas tomar diante desta situação, que aumenta o temor em relação ao que está por vir. Na última terça-feira, 26, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, emitiu um alerta global sobre o tema.

Locais no Brasil que já enfrentam o avanço do mar

No Brasil, as consequências já geram prejuízos. Além de Sergipe, vários outros locais do litoral brasileiro já enfrentam as consequências do avanço do mar.

Confira alguns deles, abaixo:

No Ceará, um dos casos mais emblemáticos é o da cidade de Caucaia, na região metropolitana de Fortaleza. Estudos apontam que as praias de Pacheco e do Icaraí perderam, em média, em torno de 5 metros de faixa de areia por ano, nas últimas décadas. Famosa pelas barracas de praia, festas de carnaval e zona de surfe, a Praia do Icaraí teve mais de 20 barracas destruídas pelo avanço do mar, além de propriedades privadas e edificações públicas – um prejuízo estimado em cerca de R$ 10,7 milhões.

Diante do quadro, a prefeitura criou em 2018 o Projeto de Gestão Integrada da Orla Marítima do município e adotou algumas medidas, em parceria com o governo do estado, como a construção de espigões para conter o avanço do mar.

Em 2020, a maré avançou de tal modo sobre a avenida litorânea que destruiu grande parte do asfalto, gerando enorme prejuízo para o município. Foi depois disso que a administração local decidiu implantar os espigões. Hoje, eles já estão no local, mas a população vive em estado de alerta constante.

Além de Caucaia, outras 10 cidades do Ceará já enfrentam consequências geradas pelo avanço do mar. São elas: Camocim; Jericoacoara; Acaraú; Flecheiras; Paracuru; Fortaleza; Icapuí; Aracati; Beberibe e Fortim.

A erosão costeira atinge, também, algumas praias da Paraíba. Na capital João Pessoa, por exemplo, já houve registros de queda de falésias nas praias de Cabo Branco e Seixas. O mesmo aconteceu em cidades como Conde e Pitimbu, no litoral sul do estado. Na parte norte, o registro mais simbólico ocorreu no município de Baía da Traição, onde dezenas de casas já foram derrubadas pela força da maré. O problema já é antigo e tem se agravado com o passar do tempo.

Só no primeiro semestre do ano passado, 22 residências foram destruídas pelo mar, especialmente nas proximidades do calçadão da Praça José Barbosa, que é a principal da cidade e que já foi atingida pelo mar diversas vezes. O município chegou a declarar estado de emergência em mais de uma ocasião.

Em Peruíbe, no litoral paulista, a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística avalia a instalação de sacos de areia para segurar o mar em uma das pontas da Barra do Una. O local passa por erosão costeira e, onde antes era protegido por vegetação, agora está tomado por areia e água.

As projeções mais recentes, como as da ONG norte-americana Climate Central, indicam que todas as cidades do litoral de São Paulo correm risco de terem parte da área urbana invadida pelo mar. Desde os anos 1950, segundo o Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP), o mar já subiu cerca de 20 centímetros na região.

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