Polícia

‘Usei toda minha força para salvá-la’: em carta que família nega ter recebido, suspeito lamenta morte de brasileira na Argentina

Com muitas perguntas ainda sem respostas, a família da brasileira Emmily Rodrigues, de 26 anos, que morreu após cair do sexto andar do apartamento do empresário Francisco Sáenz Valiente, em Buenos Aires, acredita que a defesa do suspeito está tentando “desmoralizar” a jovem e usando de artifícios emocionais para conseguir a soltura do argentino, que está preso desde o dia 30 de março. Um dos recursos seria uma carta escrita na prisão por Sáenz Valiente aos pais da brasileira, mas que nunca chegou às mãos dos familiares. (Veja carta abaixo)

O GLOBO obteve a carta através do advogado Rafael Cúneo Libarona, que defende Sáenz Valiente. Em um pedaço de papel, datado de 5 de abril, o empresário escreveu a próprio punho aos pais de Emmily que lamenta a morte da jovem.

“Senhores pais. Lamento muito o acidente da filha de vocês. Fiz todo o possível para evitar que ela se jogasse da janela. Foi uma tragédia e liguei duas vezes para o 991 para pedir ajuda para a polícia. Usei toda minha força para salvá-la. Da prisão, lhes envio minhas enormes condolências. Espero que minha inocência seja comprovada”, diz o manuscrito.

Carta escrita por Francisco Sáenz Valiente, de 52 anos, na prisão. Ele é suspeito da morte da brasileira Emmily Rodrigues, de 26 anos — Foto: Arquivo pessoal

Carta escrita por Francisco Sáenz Valiente, de 52 anos, na prisão. Ele é suspeito da morte da brasileira Emmily Rodrigues, de 26 anos — Foto: Arquivo pessoal

Pai de Emmily, Aristides Rodrigues nega que tenha recebido a carta do principal suspeito pela morte da jovem e afirma que ficou sabendo da existência do texto apenas pela imprensa. Nesta terça-feira, será realizada uma audiência que deve definir se Saénz Valiente continuará preso ou se responderá ao processo em liberdade.

— Essa carta foi escrita para a mídia, não para a família. Isso é estratégia de marketing dele porque irão decidir nesta semana se ele irá permanecer preso ou não. Eles querem desmoralizar a imagem da vítima com mentiras — afirma o pai da jovem.

Veja fotos da brasileira cai do sexto andar de prédio em Buenos Aires

A polícia argentina investiga da brasileira Emmily Rodrigues, de 26 anos, após ela cair.

Questionado sobre o motivo de a carta não ter chegado aos pais de Emmily, Libarona disse que o papel está anexado no processo e foi entregue a um agente penitenciário para que fosse entregue à família da vítima.

— A carta está anexada ao processo e, por isso, entregamos ao fiscal para que ele entregasse à família. Ela foi escrita dentro da prisão, de punho e letra de Francisco Sáenz Valiente — informou o advogado.

Família nega resultado de autópsia

Conforme divulgado pelo GLOBO neste domingo, informações do jornal Clarín apontam que a jovem fez uso de “cocaína rosa”, também conhecida como “tuci”, na noite de sua morte. A notícia foi contestada pelo pai da brasileira, que alegou que o resultado do exame ainda não foi divulgado pelo Instituto Médico Legal da Argentina.

— Não saiu ainda o resultado da autópsia, vimos que estão propagando informação sem fundamento. Eu falei com o promotor e ele me garantiu que ainda não saiu o resultado, que leva de 30 a 90 dias para ficar pronto. O jornal Clarin é da família do acusado e deve estar tentando inocentá-lo — defendeu Rodrigues, afirmando ainda que Emmily não era usuária de drogas.

Conforme o jornal argentino, Sáenz Valiente declarou que não ofereceu cocaína e tuci a ninguém, tanto em referência à vítima brasileira quanto às outras três mulheres que a polícia descobriu que também estavam no apartamento no dia da morte. Elas foram identificadas como Lia Figueroa Alves, Juliana Magalhães Mourão e Dafne Santana. No entanto, em depoimento, os quatro não negaram o uso de drogas e álcool no dia do ocorrido.

O tuci, também chamado de “cocaína rosa” , é composto por duas substâncias: um estimulante (derivado da metanfetamina, como o MDMA) e um alucinógeno (geralmente a cetamina). Seu efeito é estimulante, despersonalizante e eufórico. Na versão de Sáenz Valient, ele afirma que na noite da queda Emmily teria tido um “surto psicótico”.

Marcas de mordida na mão

Áudios obtidos pela reportagem mostram que Sáenz Valiente, de fato, pediu ajuda ao serviço de emergência argentino, antes da queda da jovem. No áudio é possível ouvir a brasileira, ao fundo, gritar por socorro. Ao telefone, o empresário forneceu o endereço da casa dele.

Contudo, a afirmação de que Emmily cometeu suicídio é negada por Ignacio Trimarco, advogado que representa os pais da modelo morta. Trimarco afirmou que o ferimento de número 18, como o machucado foi identificado na autópsia, é indicativo que a jovem tentou reagir a algum tipo de ameaça. O ferimento tem um padrão de “arraste”.

Ao GLOBO, o pai da jovem disse também que a perícia constatou que o empresário tinha marcas de mordidas nas mãos. Segundo ele, os hematomas indicam que o homem tentou calar a jovem, que se defendeu com mordidas.

— Tudo indica que tentaram calar Emmily e ela tentava se defender através de mordidas. Pessoas viram ela acenando e gritando, pedindo para chamar a polícia na frente do prédio, onde já tinham pessoas olhando — conta Aristides.

Suspeito investigado por porte ilegal de armas

A Justiça argentina ampliou as possíveis acusações contra o empresário Francisco Sáenz Valiente, de 52 anos, e agora ele também é investigado por porte ilegal de arma, fornecimento de drogas, além do homicídio qualificado por feminicídio, no caso da brasileira.

O Ministério Público argentino aponta que o empresário seria dono de uma espingarda, mas sem a devida autorização legal. Segundo a defesa do suspeito, Sáenz Valiente tem registro de porte de armas, mas o documento está vencido.

— O porte de armas está ilegal porque o registro vendeu depois da pandemia, mas ele tinha registro regular — afirmou ao GLOBO.

Durante depoimento à polícia, Francisco Sáenz Valiente negou ter fornecido drogas a Emmily. Ele, no entanto, admitiu ter feito uso da droga sozinho. Ele afirmou também que a substância estava em uma mesa do apartamento.

— A droga estava na mesa. Ele nunca forneceu ou deu cocaína ou “tuci” a ninguém — disse o advogado Rafael Cúneo Libarona, que defende o empresário.

Fonte O Globo

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