Funcionária do Detran é presa em operação contra maior quadrilha de receptação e clonagem de veículos
A Polícia Civil realizou, nesta quinta-feira, uma operação contra a maior quadrilha de receptação e clonagem de veículos roubados do estado do Rio de Janeiro. Dezessete pessoas são alvo de mandado de prisão preventiva. Uma delas é uma funcionária terceirizada do Detran que, segundo as investigações, ajudava na expedição de documentos, por meio de consulta de dados e obtenção de papel original do órgão, para facilitar a revenda dos veículos. Até o momento, seis pessoas foram presas.
Os agentes continuam nas ruas para cumprir 70 mandados de busca e apreensão. O inquérito policial resultou no indiciamento de 25 integrantes da organização. As investigações tiveram início há cinco anos e mostraram que a quadrilha age em toda a Região Metropolitana, na Região dos Lagos, no Norte, Nordeste e Noroeste Fluminense, e se expande para os estados vizinhos: São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais.
O grupo age de forma organizada há pelo menos cinco anos, mas seus integrantes têm passagens anteriores pelo mesmo crime, segundo a polícia. Não foi possível uma estimativa de quantos veículos foram adulterados pela quadrilha nesse período, no entanto, atualmente, a média era de 10 a 15 carros clonados por mês.
— Os integrantes estão há bastante tempo, cerca de uma década, ligados a esse crime. Nessa operação conseguimos provar esse vínculo estável, como quadrilha, por isso acreditamos que é a maior do estado. Dá uma média de um carro a cada dois ou três dias para clonagem, um processo bem rápido, até me surpreende — diz o delegado titular da 32ª DP, Ângelo Lages, à frente da operação.
Os veículos a serem clonados eram conseguidos de duas formas. Uma delas pela proximidade com o tráfico de drogas, em que criminosos roubavam os carros e repassavam para a quadrilha especializada. Alguns eram vendidos por R$ 1 mil. Outra forma era por meio de estelionato, de duas maneiras: o proprietário lesava o seguro, no qual simulava um roubo e repassava para o grupo; e por aluguel em empresas de locação sem os devolver por estar em nome de laranjas ou em CNPJ de fachada.
O papel da funcionária do Detran, identificada como Hortência de Barros Walter, era de dar ainda mais legitimidade ao esquema. Por trabalhar no órgão, ela consultava no sistema veículos com as características iguais às do clonado. O documento falsificado ganhava ares do original porque era impresso em papel original, o que não levantava suspeitas.
— A quadrilha, por meio de roubo ou estelionato, adquiria os carros. A funcionária do Detran, então, consultava no banco de dados, buscando um veículo com as mesmas características. Assim, por exemplo, pegava essas informações de um que está rodando em Minas Gerais e então o clonado fica no Rio. Ela tinha acesso a esse banco para pegar os dados que possibilitavam a clonagem. A quadrilha adulterava o veículo e ela fazia a documentação no Detran — conta o delegado Ângelo Lages.
De acordo com o policial, antes mesmo da prisão, Hortência já estava afastada de suas funções no órgão:
— Ela foi afastada e já responde a vários inquéritos por irregularidades dentro do Detran. Entre eles, emissão irregular de documento, extravio de documentação. Além da investigação da polícia, ela também passa por processo interno.
O documento com informações falsas em papel original dificultava levantar suspeitas sobre o veículo sem que fosse periciado e notadas as adulterações, como número do chassis, motor e numeração dos vidros.
— Ela tinha papel fundamental. Sem ela, a quadrilha não conseguiria obter tanto êxito. Ela emitia o documento com o papel quente. Isso é importante porque quando as pessoas estavam circulando, eram parados numa blitz, e o PM fosse conferir, o documento, aparentemente, estava certo, mesmo o carro todo adulterado. Até a numeração dos vidros era alterada. Eles faziam isso muito bem. Poderia ser identificado salvo se fosse feita alguma denúncia e o carro passasse por uma perícia — salienta Ângelo Lages.
Procurado, o Detran ainda não respondeu.
A investigação sobre o grupo teve início em 2017, com a prisão em flagrante, pelo crime de receptação, de Sílvio Ricardo Martins Aguiar, quando estava em um veículo Kia/Cadenza clonado. Os sinais identificadores do veículo estavam adulterados, a exceção, do número do motor, o que permitiu verificar que o carro havia sido roubado em Alcântara, em São Gonçalo.
O aparelho celular, apreendido com Sílvio Ricardo, foi periciado, após autorização judicial, e foram encontradas provas sobre a organização da quadrilha. Foram analisadas 13 mil ligações e trocas de mensagens. No material constam conversas com receptadores e interessados na compra dos veículos.
Fonte Yahoo Noticias